Sobre inseguranças #1

Uma das coisas que sempre detestei no meu corpo foram os meus braços gordinhos.

Até mesmo quando pesava 60 quilos e de gordos não tinham nada. Eu achava que eram.

Agora, uns bons anos depois e com uns bons quilos a mais em cima, essa ideia continua presente no meu pensamento. Sempre lidei bastante bem com os quilos a mais, nunca me importei muito com as coxas mais largas, com a barriga ou com as mamocas (as mamocas na verdade até me agradou, porque quando era magra as pobres coitadas não existiam). Mas os braços, foi uma insegurança que esteve sempre no meu inconsciênte, até quando era bem, bem magra, o que se tornou ainda mais forte quando engordei e eles ficaram, de facto, gorduchos.

Para terem noção, blusas de alças não entravam no meu guarda-roupa. Ou se entravam era para serem usadas por baixo de outras camisolas ou sempre com um casaco ou kimono por cima. Essa foi outra, a moda dos kimonos, que veio para ficar até agora e que eu alegremente aproveitei para usar por cima das minhas blusas de alsas ou tshirts de manga mais curta, para esconder a parte que menos gosto no meu corpo, os meus braços gordos.

Atualmente vivemos num país em que no verão faz um calor infernal e só apetece andar nú na rua (se fosse possível), ou ficar em casa com o ar condicionado a bombar. Roupas frescas são, portanto, essenciais para estarmos confortáveis. Ainda assim, nunca tinha saido de casa só com uma blusa de alsas sem, pelo menos, um kimono leve por cima.

No outro dia quando fui com o meu marido fazer umas compras no supermercado aqui do bairro, estava um calor infernal e, corajosa, sai com um body de alsas. Eu adoro bodies de alsas para usar com os kimonos, por serem super frescos e porque não uso sutien com eles (nada melhor do que deixar as amigas livres). Não saí super confiante e segura. Mas naquele caminho percebi o quanto eu me condicionava a andar desconfortável, pelo facto de me incomodar os braços gorduchos. Comentei com o meu marido, como era bem mais agradável e menos quente andar com um kimono em cima. Ele, claro, disse-me que eu era parva por não usar só as blusas de alsas, que sou gira e tal e que o que não falta por aí é gente a fazer o mesmo (mais ou menos gordas, etc). Concordei.

Entretanto voltei a sair de alças, mas com o meu acessório favorito por cima. Até que hoje, enquanto me preparava para o trabalho, estava eu a escolher a roupa, um bodie preto e umas calças de citura subida axadrezadas (não sei o nome, mas daquelas tipícas de quem trabalha num escritório, estão a perceber?). A camisa que costumo usar por cima, estava para lavar. Pensei, o que vou vestir por cima?

Tinha pouco tempo, já me estava a atrasar, e o calor era tanto que ainda não tinha saído de casa já estáva a suar. Decidi trazer um  casaco de chiffon transparente, de manga muito curta e fininho (que também não gosto), mas que era melhor que vir só de alsas.

No caminho despi-o e senti-me mais fresca e confortável. Cheguei ao escritório e a primeira coisa que ouvi, para minha surpresa, foi a minha chefe a dizer que estava muito bonita e com um ar muito sexy hoje. Eu, que fiquei em casa pelo menos 2 minutos a considerear a ideia de ir trocar de roupa, para não mostrar esta parte de mim que tanto me desagrada, fiquei surpreendida.

Não que a opinião dos outros me importe muito, mas quando essa opinião vem num dia em que te sentes meio frágil por expores uma parte de ti que não te sentes muito confortável em mostrar, e vem de uma pessoa que não faz ideia disso... óbvio que cai bem.

Inconsciêntemente, durante o dia fiquei a pensar em, como eu que acho tão bem aceitarmo-nos como somos, que me inspiro com as mulheres plus size confiantes nas redes sociais, tenho sido tão “judgemental” comigo mesma. Nunca, jamais eu pensaria que hoje estava “sexy”, não sem um acessório por cima do body de alças. Mas aparentemente, estou, aos olhos dos outros, que não se focam nessas coisas. Posso-vos dizer que o tal casaco que trouxe tem estado pendurado na minha cadeira, só o voltei a pôr à pouco porque o ar condicionado ficou muito frio.

Hoje, senti-me confiante a usar blusas de alças e a mostrar os meus braços gorduchos ao mundo. Talvez amanhã já não seja assim, mas vamos, um passo de cada vez.